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Gerar impacto positivo na vida do consumidor também é inovação

Muitas empresas buscam desenfreadamente a inovação. Neste percurso, se espelham em modelos que deram certo no passado e em casos globais de sucesso. Como se inovar dissesse respeito apenas a produtos e serviços.

No entanto, muita gente não compreende totalmente que a inovação consiste no resultado final de um processo.

Um processo que pode envolver diferentes aspectos, inclusive questões intangíveis como encontrar equilíbrio entre lucro e propósito nos negócios.

E como em qualquer busca de inovação, para acontecer, precisa de uma boa dose de mudanças internas, criatividade e desapego.

Tal explicação foi dada por Victor Cremasco, sócio da consultoria de inovação Mandalah, durante uma recente palestra na Feira Nacional do Empreendedor, promovida pelo Sebrae na capital paulista.

Fundada em 2006, em São Paulo, a Mandalah atua em projetos de negócios, gestão de marca e cultura para empresas de diferentes segmentos, entre elas General Motors, Itaú e Bayer.

A consultoria ajuda as empresas a alinhar a atuação corporativa ao interesse das pessoas, justamente encontrar equilíbrio entre lucro e propósito.

O modelo também serve como uma poderosa ferramenta de gestão de marca – e, consequentemente, proporciona crescimento.

Um estudo da revista americana Fortune mostrou que empresas com boas práticas centradas em pessoas têm crescimento exponencial.

Uma análise da variação do valor das ações das empresas listadas no índice S&P 500, entre 1997 e 2013, apontou que o crescimento das melhores empresas para se trabalhar foi de 433%.

A taxa média das demais corporações foi de 141%, cerca de três vezes menos.

Mas como uma empresa pode aumentar os lucros seguindo a lógica de também gerar impacto positivo na sociedade?

Uma das táticas, segundo Cremasco, consiste em prestar atenção nas mudanças que acontecem no mundo e que podem interferir no negócio – e usar essas transformações a favor da marca.

Conheça algumas dessas mudanças em andamento e como estão sendo aproveitadas de forma inovadora por algumas empresas.

1 MARCAS PROTAGONISTAS NA SOCIEDADE

Foi-se o tempo em que o conceito de responsabilidade social corporativa se limitava a práticas restritas e isoladas, como doações mensais a ONGs. Hoje, a empresa precisa ter um papel ativo e ser uma articuladora de impactos.

Em 2016, a marca Neve de papel higiênico, da empresa americana Kimberly-Clark, se uniu ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no programa Banheiros Mudam Vidas.

A iniciativa tem o objetivo de melhorar as condições de saneamento básico em áreas carentes da Amazônia.

Numa das dinâmicas, a empresa convidou jovens universitários a desenvolver, em parceria com moradores locais, modelos de banheiro de fácil construção para instalação em cerca de 300 municípios.

Na fase de prototipagem e construção das primeiras unidades, diretores da empresa trabalharam no canteiro de obras.

2 FACILITAR A VIDA DO CONSUMIDOR

A tendência tem a ver com eliminar obstáculos na jornada das pessoas. Traduzindo para os negócios, significa otimizar o tempo e oferecer uma experiência mais cômoda ao consumidor.

Um exemplo são os aplicativos baseados em geolocalização que ajudam os consumidores a se movimentar em locais fechados de grandes dimensões, como shoppings, aeroportos e pavilhões de exposição.

Num shopping, o cliente consegue acessar o mapa do local e encontrar a melhor rota para chegar a lojas e restaurantes de sua preferência. Basicamente, um Waze para o consumo.

3 PARCERIAS INUSITADAS E ÚTEIS

Parcerias e cobranding não são novidades. Mas o que tem crescido são ações estratégicas de empresas de diferentes segmentos que se unem para impactar o consumidor no mundo físico.

Uma iniciativa que gerou um tremendo burburinho reuniu a Ikea, a maior rede de varejo de móveis do mundo, e AirBnb, pioneira na plataforma on-line de aluguel de quartos.

A parceria consistiu na produção de três ambientes de diferentes estilos, decorados por móveis da Ikea e instalados numa loja australiana da marca, e oferecidos para aluguel pelo Airbnb. O pernoite saía por 11 dólares.

No Brasil, uma recente parceria no mesmo molde aconteceu entre a 99Taxi e Johnny Walker. A marca de uísque pagava até R$ 30 em corridas de usuários aos finais de semana.

Em vez de criar uma campanha de comunicação, a empresa usou a verba equivalente para comprar quilometragem na 99Taxis e doar para a população.

Na época da campanha, um porta-voz da Johnnie Walker vinculou a ação à responsabilidade da empresa de ajudar o consumidor a mudar o hábito de beber e dirigir.

4 CONSUMO SOB CONTROLE

Tendência crescente nos últimos anos, o conceito de lowsumerism (baixo consumo) se opõe ao consumismo exacerbado, em grande parte incentivado pela publicidade das marcas nas últimas décadas.

Na moda, o conceito tem a ver com o movimento slow fashion, que prega, além do baixo consumo, o design atemporal, o uso sustentável dos materiais e a contratação de fornecedores e mão de obra local.

A Patagonia, marca americana de artigos de esportes de aventura, incentiva seus próprios consumidores a comprar menos.

Em plena Black Friday, a empresa publicou um anúncio no jornal The New York Times com o título “Não compre essa jaqueta”, acima da imagem do produto.

Abaixo, outra mensagem: “não compre o que não precisa. Pense duas vezes antes de comprar qualquer coisa”.

Dentro dessa filosofia, a empresa também mantém um departamento exclusivo para reparar roupas de clientes.

Mesmo que o defeito tenha sido causado pelo próprio consumidor, independente do prazo de garantia, o reparo é feito gratuitamente. Por ano, são mais de 30 mil consertos.

A marca ainda possui um trailer que viaja pelos Estados Unidos oferecendo o conserto de casacos pesados, mochilas e botas, entre outros itens.

Será que o serviço extra onera o caixa da Patagônia? É bem provável que não.

Com o posicionamento de empresa sustentável, o lucro da marca triplicou entre 2008 e 2015, de acordo com o Wall Street Journal.

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