Por definição, a palavra dívida lembra algo que nos falta, ou que precisa ser quitado; vai desde a dívida de ligar para aquela parente que sempre lembra de nosso aniversário (mas em geral prometemos que vamos fazer uma listinha para evitar esquecimentos, como esse!) e este fato gera uma certa culpa… pois a dívida tem um pouco desta culpa embutida, principalmente na nossa cultura judaico-cristã.
Entretanto, para as pessoas com mais experiência de vida – não necessariamente mais velhas, ok? – a idéia de um passado recente era “só progride na vida quem faz dívida”. Lembra disso? Já ouviu coisa parecida? Realmente houve um tempo na economia brasileira que adquirir coisas importantes custava caro demais, e com uma inflação monstruosa o dinheiro desvalorizava rapidamente, e a única alternativa era tentar pagar parceladamente (ou para quem tinha dinheiro pagar a vista, mas isso não era a maioria). Faz tempo; nesta época até telefone só se comprava via Plano de Expansão, que levava quase dois anos de pagamentos para se ter acesso a uma linha telefônica.
Águas passadas… Hoje nossa economia está bem mais estável (ainda pode melhorar, sem dúvida), o que faz a frase das dívidas tornar-se obsoleta; mas ainda há gente que não só contrai dívidas mas se endivida – ou seja, perde o controle do que está por pagar. Há uma grande diferença entre ter dívidas e estar endividado, e nisso reside o conceito de dívida boa e dívida ruim. Vamos compreender?
Ter dívidas pressupõe ter pagamentos a serem quitados regularmente, o que poderia ser considerado o pagamento regular das contas de serviços (luz, água, condomínio) e custos regulares, como a fatura do cartão de crédito. Se estas despesas estão sendo pagas dentro dos prazos, sem gerar juros e multa, temos um bom controle destes pagamentos, e portanto são dívidas controladas. Estar endividado é bem diferente: as dívidas não foram totalmente pagas, sejam carnês ou mesmo as contas, e a quitação das mesmas vai gerar multa e juros. Normalmente, quem está endividado “tem o cobertor mais curto”, e portanto a renda recebida não cobre as despesas regulares. Isso apresenta um grande risco: o aumento desta bola de neve, que gera mais endividamento.
A dívida boa, considerada por muitos, é a que gera condições de ter mais dinheiro, mais renda e simplificadamente “coloca dinheiro no seu bolso”. É o caso do celular que gera contatos que rendem mais trabalhos, o automóvel usado para visitar clientes e custos que implicam no seu bem estar para produzir mais e melhor. Pode-se acrescentar aí a dívida da casa própria (que poderia ser evitada, mas é tema para outro artigo), normalmente com taxas de juros mais baixas, e procedimentos médicos ou odontológicos que vão resultar em qualidade de vida, saúde. Já a dívida dita “ruim” é aquela desnecessária e que gera custos, tanto financeiros quanto emocionais. Normalmente, é dívida contraída por impulso, como aquela bolsa lindíssima comprada num momento de tristeza ou ansiedade em dez vezes sem juros no cartão – mas tá difícil pagar até o valor mínimo da fatura…
Se você está em algum dos casos de endividamento ou com dívidas não tão agradáveis, saiba que isso acontece com muitas pessoas, mas que não deve se tornar algo crônico, incontrolável. A primeira providência é parar de contrair dívidas, seja quais forem. A segunda coisa é listar todas elas de forma fácil e legível, com seus valores, juros e datas para pagamento. Se o valor for muito alto e capaz de gerar problemas de crédito, procure propor uma negociação dos valores em parcelas menores ou com um prazo capaz de ajudar na quitação das mesmas. Tente, dentro das suas habilidades, fazer um dinheirinho extra para pagar os atrasados mas não se esqueça que esta renda adicional deve ser usada efetivamente para acabar com as dívidas. À medida que for pagando, com certeza você irá sentir um alívio enorme no coração e no bolso, coisa que, como diz um famoso slogan de cartão de crédito, “não tem preço”!