“Continuo no propósito de falar sobre o grande problema do desemprego que afeta principalmente os jovens em nosso país, conforme o que disse nos três últimos artigos aqui nesta coluna. Porém, a relação desse desemprego com a educação, ou melhor com a falta dela, é concreta, real, e reverbera a crueldade.” – Diz Elisabete Adami Pereira dos Santos, professora da PUC-SP.
Os dados divulgados da PNAD-Contínua têm como base o ano de 2017 e mostram alta de 5,9% no número de jovens, entre 15 e 29 anos de idade, que não estudam nem trabalham ou se qualificam. São os chamados “nem-nem”.
Esse aumento elevou o número para 11,1 milhões de pessoas nessa faixa etária, representando, portanto, quase 23% do universo total da faixa que é de 48,5 milhões de pessoas.
O aumento se deveu mais pelos que estavam no mercado de trabalho porque o número dos que não estudam permaneceu estável. Continuamos ou não abrindo oportunidades para os jovens ou expulsando-os do mercado.
O número não ter crescido em função dos que não estudam não deve servir de alento, pelo contrário. Temos, no total, 25,1 milhões de jovens, que não estavam matriculados, em 2017, em qualquer tipo de curso de ensino regular, pré-vestibular, técnico de nível médio ou de qualificação profissional, mas também não haviam concluído uma graduação, ou seja, ainda tinham o ensino superior incompleto.
Voltando a um dos temas de um dos meus artigos aqui: uma coisa leva a outra, que leva a outra, que volta à uma. Não estar no mercado de trabalho pode ser encarado como uma situação conjuntural, e pode ser, portanto, passageira. Porém, não estar estudando, ou mesmo se qualificando tecnicamente, produz um efeito estrutural: quando, e se, a economia e o mercado de trabalho tiverem se recompostos, por volta de 25 milhões dos nossos jovens não estarão preparados para ele, e a impiedade será um fato.
Fonte: Estadão