A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de ajustar as normas de crédito rural foi comemorada pelas cooperativas agropecuárias. Contudo, o alto custo das linhas de financiamento preocupa o setor. Publicada em 29 de agosto, a Resolução 4.597/17 alterou diversos pontos que, na visão dos produtores, ameaçavam comprometer a safra 2017/2018. As correções ocorreram depois de quatro meses de reuniões, debates técnicos e audiências públicas que envolveram representantes do cooperativismo, do governo e do Congresso Nacional.
“Estamos muito felizes com essa conquista”, comenta o presidente do Sistema OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras, Márcio Freitas. “O novo conjunto de regras possibilitará a manutenção do ritmo de crescimento aos nossos empreendimentos.” Nos próximos meses, um grupo de 12 grandes cooperativas vai avaliar o comportamento da safra e verificar a possibilidade de avançar em outros pleitos.
“A questão mais iminente agora é o altíssimo custo financeiro das operações de crédito, especialmente junto ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]”, diz o coordenador do ramo agropecuário da OCB, Paulo César Dias do Nascimento. “A taxa para capital de giro, por exemplo, corresponde à TJLP [Taxa de Juros de Longo Prazo] mais 7%, totalizando 10,7%.”
Uma das reivindicações atendidas pelo governo foi a elevação do limite de crédito para cooperativas de produção, que passou de R$ 600 milhões para R$ 800 milhões, abrangendo operações de custeio, comercialização e industrialização. O CMN também revogou a exigência de apresentação da lista prévia de cooperados, considerada de execução prática inviável. Pela nova regra, as cooperativas enviarão a lista à instituição financeira somente depois de fornecer os insumos aos associados.
“Conseguimos demonstrar com tranquilidade e números que o investimento na agricultura é um motor de desenvolvimento”, disse o superintendente do Sistema Ocepar – Organização das Cooperativas do Estado do Paraná, Robson Mafioletti. “Precisamos modernizar o crédito rural, mas sem acabar com as conquistas da década de 1970, pois o crédito rural para as cooperativas foi fundamental para a revolução na agricultura brasileira.”
Para o superintendente administrativo da Coamo, Antônio Sérgio Gabriel, é importante que o poder público reconheça o papel das cooperativas, de forma a evitar equívocos como os cometidos na regra anterior. “Nosso objetivo é a prestação de serviços aos cooperados, não o de render dividendos como uma empresa mercantilista, e isso é uma diferença substancial”, enfatizou.
Localizada em Campo Mourão (PR), a Coamo tem 28 mil associados e é a maior cooperativa singular da América Latina em receitas globais, respondendo por 3,5% da produção brasileira de grãos e fibras. Em 2016, contabilizou um resultado recorde de R$ 11,4 bilhões.
“Criticamos a visão que as autoridades monetárias ainda têm de disciplinar o crédito por organização, e não pelo número de produtores”, diz o vice-presidente da Aurora Alimentos, Neivor Canton. Em sua avaliação, o agente financeiro é quem deveria estabelecer o limite que não crie riscos à operação. Canton critica as taxas de juros proibitivas e adverte: “Não se pode tirar do cooperado o ânimo de produzir, sob pena de termos um forte revés mais adiante.” Com 13 cooperativas filiadas e mais de 72 mil famílias associadas em Santa Catarina, a Aurora estima que sua receita bruta vai superar R$ 9 bilhões este ano.
Luiz Carlos Chiocca, diretor-presidente da Copercampos, de Campos Novos (SC), defende uma política econômico-financeira para o setor com um planejamento mínimo de cinco anos. “Acredito que isso deve ser debatido e realizado, pois as cooperativas necessitam de segurança para planejar suas ações”, diz. Com 1.450 associados, a Copercampos é a segunda maior multiplicadora de sementes de soja do Brasil, com 2,4 milhões de sacos de 60 kg movimentados na última safra. Em 2016, seus armazéns, lojas, supermercados, postos de combustíveis e indústria de rações proporcionaram em uma receita líquida de R$ 1,47 bilhão.
Para o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) e diretor-secretário do Sistema Ocergs – Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul, Paulo Pires, qualquer análise sobre crédito deveria partir de quantos associados são beneficiados: “Entendemos que uma cooperativa não é um CNPJ, são vários CPFs”, afirma. “O crédito rural é muito importante para os pequenos produtores e deveria ser intocável.”
Fonte: Valor Econômico